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A importância do profissional Geólogo para o DAEE

escrito por José Eduardo Campos

30/05/2023   |   Confira as últimas notícias 

Big Bang, ou Grande Explosão, como os físicos denominam, é o ponto de partida de toda a matéria e energia do Universo que, há 15 bilhões de anos, explodiu num evento único e original. Assim nasceu o Universo, cuja abordagem encontramos no livro Decifrando a Terra (Editora Oficina de Textos, 2000).

Naturalmente, o planeta Terra, pequena parte do universo, o habitat natural do homem, desperta num determinado ser a curiosidade de pesquisar e entender todos os aspectos da complexa estrutura do globo terrestre.

O livro Decifrando a Terra ilustra com propriedade esta situação e oferece rica informação aos profissionais que atuam em todos os segmentos das ciências ambientais. E o geólogo é um dos principais usuários. É, por assim dizer, seu livro de cabeceira.

É sabido que os recursos naturais representam valioso “motor” de desenvolvimento econômico e social. Neste contexto, o petróleo e outros recursos minerais e energéticos constituem bens patrimoniais dos países, disputados mundo afora.

Investimentos vultosos são direcionados a pesquisas e desenvolvimento e o Brasil se destaca, por exemplo, quando descobriu o hoje conhecido pré-sal. Imaginem “sugar” o líquido viscoso de 10 mil metros, incluindo uma lâmina d’água de mais de 800 metros no Oceano Atlântico Sul.

Segundo Ruben La Laina Porto, em Fundamentos para a Gestão da Água (São Paulo, 2012), “em 2007 foi descoberto petróleo na camada denominada Pré-sal, que posteriormente se configurou como um grande campo petrolífero, estendendo-se ao longo de 800 km na costa brasileira, do Estado do Espírito Santo ao de Santa Catarina, abaixo de espessa camada de sal (rocha salina) e englobando as bacias sedimentares do Espírito Santo, de Campos e de Santos. O primeiro óleo do pré-sal foi extraído em 2008 e a produção comercial passou a ser realizada desde 2010.

Por outro lado, embora o petróleo tenha grande destaque na mídia, devido ao seu valor econômico e insumo de cadeias produtivas, muito mais importante é a água – o recurso hídrico. Um “ouro branco”, em alusão ao termo “ouro negro” do petróleo, fundamental para a vida do homem e suas atividades econômicas e dos ecossistemas de modo geral. Por sua importância também já é objeto de disputas, razão pela qual há movimentos de organizações governamentais e não governamentais visando sua proteção e o uso racional e sustentável.

Alinhados com este objetivo, o Engenheiro do DAEE Flávio Terra Barth, junto de técnicos do governo, das universidades e outros profissionais inauguraram o marco legal de recursos hídricos paulista, representado pela Lei 7663/91, que foi inspirada na Lei das Águas da França. Um instrumento moderno que reúne o Governo do Estado, os municípios e representantes da sociedade civil, de forma igualitária, em fóruns conhecidos como Comitês de Bacias Hidrográficas, onde são definidas as políticas de recursos hídricos, os programas, as metas, as ações e os recursos financeiros necessários.

Mas, as políticas públicas neste tema carecem do entendimento de como funciona todo o ciclo hidrológico e os meios onde as águas circulam. As águas subterrâneas, em particular, representam parte deste ciclo e o meio físico, onde se infiltram e circulam, são as rochas ígneas, metamórficas e sedimentares. Quando as águas subterrâneas podem ser exploradas e extraídas economicamente pela sociedade, as unidades rochosas são classificadas como aquíferos. Há, também, outras denominações como aquicludes, aquifugos e aquitardes que, no geral, são reservatórios que não armazenam ou não transmitem as águas em quantidades apreciáveis como os aquiferos. O estudo dos aquíferos é tema da hidrogeologia, uma especialidade dos geólogos.

No Estado de São Paulo a política de recursos hídricos é lastreada por um acervo bastante robusto de estudos técnicos na área da geologia e hidrogeologia, dos quais destacamos o projeto Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo. Foi executado pelo DAEE no período de 1972 a 1982, nas 11 (onze) regiões administrativas. Iniciativa pioneira no Brasil, ao considerar sua cobertura em todo o Estado de São Paulo, onde as equipes de campo, a maioria de geólogos, percorreram todo o território paulista utilizando cartas planialtimétricas na escala 1:50 mil. O cadastramento deu origem ao principal inventário de poços no Estado, representado pelo SIDAS – Sistema de dados de Águas Subterrâneas.

O geólogo Gerôncio Rocha (cujo depoimento finaliza este texto) coordenou parte dos trabalhos junto de outros profissionais. Os resultados foram publicados, por região administrativa, em relatórios e mapas temáticos diversos.

Durante sua execução foram projetados e construídos poços de pesquisa o que propiciou um salto de qualidade na tecnologia de perfuração e na capacitação de técnicos. Com isso, o DAEE tornou-se referência nacional. Como os poços de pesquisa eram aproveitados no abastecimento público, houve grande interesse das prefeituras e da SABESP e o Governo do Estado decidiu inserir esta atividade no Programa de Atendimento aos Municípios. Recentemente, visando a segurança hídrica no abastecimento público, em função de estiagens mais severas, o DAEE foi incumbido pelo Governo e contratou a construção de 150 poços tubulares profundos.

Não há dúvidas da importância do DAEE na contribuição do conhecimento dos aquíferos do Estado, mas é preciso ressaltar os convênios com os Institutos de Geociências da USP e da Unesp de Rio Claro que permitiram a elaboração dos mapas geológicos, com a participação dos geólogos do DAEE. A capacitação dos técnicos do DAEE veio também por meio de intercâmbios para cursos de extensão na Universidade Politécnica da Catalunha em Barcelona e no Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas da Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel.

O Projeto Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo constituiu, também, a principal referência de dados e informações para a elaboração do Mapa de Águas Subterrâneas do Estado de São Paulo, publicado pelo DAEE, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Instituto Geológico (IG) e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), em 2005.
O Mapa de Águas Subterrâneas constituiu um projeto estratégico, pois sintetizou o conhecimento e as informações hidrogeológicas existentes, destacando o papel chave do DAEE, sob a coordenação do geólogo Gerôncio Rocha.

Não é demais mencionar que o nosso colega Gerôncio é referência profissional no Brasil e até mesmo na América do Sul. Merece destaque sua maior contribuição quando estabeleceu, no artigo O grande manancial do Cone Sul (Estudos Avançado, USP 1997), as bases técnicas e conceituais para o Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aquífero Guarani abrangendo os quatro países onde ocorre o aquífero, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Foi executado sob a coordenação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e recursos com financeiros do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), do Banco Mundial.

Haveria muito mais a descrever, sobre minha ótica, da importância do geólogo ao DAEE mas, certamente mais interessante é o depoimento que abaixo transcrevo (notem que alguns trechos se repetem mas optei por mantê-los):


DAEE na memória de um geólogo

O DAEE foi minha universidade profissional: entrei em 1972, e 39 anos depois me aposentei.

Fui contratado para compor uma equipe nova, numa nova área de trabalho: águas subterrâneas, hidrogeologia. O superintendente da época, engenheiro Renato de la Togna, fez uma viagem técnica a Israel e voltou entusiasmado com o que viu. Pouco tempo depois, foi formalizado um contrato com a estatal Tahal e começou um grande projeto: “Estudo de Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo”, alojado na Diretoria de Planejamento, sob o comando dos engenheiros Rubem Porto e Flávio Terra Barth.

No primeiro ano, coleta de dados e diagnóstico preliminar. Em seguida, o trabalho de campo em hidrogeologia. A estratégia geral foi executar as atividades por regiões administrativas (onze), às vezes agrupando-as por semelhança, mas mantendo o recorte das bacias hidrográficas. Cada área de estudo levava em média 18 meses.

Os relatórios completos eram publicados ao final de cada estudo. A coleção está na biblioteca do DAEE, junto com os originais dos mapas produzidos, esperando uma edição eletrônica, evitando seu abandono e desconhecimento.

As equipes técnicas eram formadas por engenheiros hidrólogos, geólogos, agrônomos, tecnólogos e motoristas. Em cada região alugava-se uma casa que era pousada e escritório. Trabalho de campo: cadastro de poços; testes de vazão; acompanhamento de perfuração de poços experimentais; mapeamento geológico (em convênio com as universidades). O projeto foi concluído em 10 anos. Nessa época, a equipe de geólogos no Serviço de Águas Subterrâneas, unidade da DP, já somava 25 colegas. Bons tempos, apesar do salário.

Em meados de 1980 (governo Montoro) houve um surto de democracia na sociedade e técnicos do DAEE, liderados por Flávio Barth, deram uma contribuição à altura: o projeto de lei estadual de águas subterrâneas (1988) e o projeto de lei estadual de recursos hídricos (1991) ambos com redação do saudoso jurista Cid Tomanick Pompeu.
Com isso foi consagrada a descentralização de governo; e foi iniciada a gestão participativa das águas. Fiquei uns dez anos no Comitê da Bacia do Alto Tietê, agora fazendo política pública da água. Saudades.

Hoje em dia, me parece que há uma grande falta de técnicos, a maioria aposentados.

Face ao aumento progressivo das atividades e ao agravamento da condição das águas, é mais do que oportuno um concurso público para a reposição dos recursos humanos técnicos e administrativos – com salários semelhantes aos das estatais do setor, como Sabesp e Cetesb. Mas isso é outra história.

Gerôncio Rocha (rocha.geroncio@gmail.com).
José Eduardo Campos

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